Células nervosas hiperativas contribuem para o desenvolvimento da depressão

24-02-2011 21:47

"A pesquisa identificou um novo circuito anatômico no cérebro envolvido na depressão, e mostrou como ele interage com o sistema de recompensa do cérebro para disparar um sinal de desapontamento constante ", diz Fritz Henn

 

 

Cientistas do Brookhaven National Laboratory, nos Estados Unidos, identificaram células hiperativas em uma estrutura minúscula do cérebro que pode desempenhar um papel importante no desenvolvimento da depressão.

O estudo, realizado em ratos, deve ajudar a revelar um mecanismo celular para os transtornos depressivos que podem conduzir à elaboração de tratamentos eficazes.

Resultados da pesquisa fornecem evidências de que a inibição dessa região do cérebro em particular - a habenula lateral -, por meio de eletrodos implantados, pode reverter certos comportamentos associados com a depressão, e também fornece um mecanismo para explicar esse efeito. Tais resultados dão suporte ao uso de estimulação profunda do cérebro como um tratamento clínico de pessoas com a depressão de longa duração e resistente ao tratamento.

Os pesquisadores defendem que é possível que os genes especificamente expressos nestes neurônios possam ser alvos genéticos ou farmacológicos, e que, a manipulação destes alvos possa contribuir para a redução dos efeitos da depressão.

Sistema de recompensa

Os cientistas já sabiam que as células da habenula lateral são ativadas por eventos negativos ou desagradáveis, incluindo o castigo e a decepção. Pode parecer intuitivo que tais estímulos negativos podem levar à depressão, mas nem todo mundo que experimenta a decepção desaba em um estado de desamparo. Para explorar esta ligação, os cientistas avaliaram os circuitos cerebrais.

Eles examinaram a sensibilidade das células cerebrais da habenula lateral - especialmente aquelas que enviam sinais para os centros de recompensa do cérebro - em dois modelos animais de com desamparo, uma forma de depressão, bem como em animais de controle que não estavam desamparados.

Em geral, os cientistas descobriram que estas células nervosas da habenula lateral eram hiperativas nos animais deprimidos, mas não nos controles. Além disso, o grau de hiperatividade coincidiu com o grau de impotência.

"A ativação da habenula lateral é conhecida por influenciar a liberação de serotonina e norepinefrina, dois alvos de medicações antidepressivas atuais", observou Henn. "O estudo analisou o papel da habenula lateral no sistema da dopamina, o sistema envolvido na sinalização de recompensa. Observou-se que a hiperatividade na habenula lateral devida à impotência induzida por estresse desliga do sistema de recompensa do cérebro."

Para investigar se a estimulação elétrica poderia reverter esse efeito de amortecimento da recompensa, os pesquisadores colocaram um eletrodo estimulador na habenula lateral e mediram os efeitos sobre as células cerebrais que conduzem ao centro de recompensa.

Os cientistas descobriram que a estimulação elétrica das células cerebrais hiperativas da habenula lateral reduziu a atividade excitatória que conduz ao centro de recompensa.

Em seguida, os cientistas testaram para ver se a estimulação cerebral profunda em ratos com desamparo afetaria seu comportamento. O resultado foi uma redução acentuada no comportamento indefeso que foi dependente tanto da colocação do eletrodo na habenula lateral (e não em regiões cerebrais adjacentes) e da intensidade do estímulo.

"Nossos resultados mostram claramente que a supressão da transmissão sináptica na habenula lateral por meio de estimulação cerebral profunda pode reverter comportamentos agudos em ratos indefesos", disse Henn.

"Nosso estudo fornece um mecanismo celular que poderia explicar a hiperatividade das células nervosas na habenula lateral observada em humanos deprimidos e em modelos animais com depressão, bem como através do silenciamento cirúrgico ou farmacológico, reduzir a depressão e ansiedade em animais", acrescentou Henn.

A identificação desses circuitos específicos do cérebro e sua disfunção na depressão pode abrir as portas para tratamentos mais eficazes.

Fonte: Isaúde.