Bom senso olfativo é mais um produto do treinamento do que de bons genes
Imaginário olfativo depende da reativação de imagens olfativas no cérebro e que capacidade se desenvolve com a experiência
Ter um bom olfato não é algo inato, mas uma questão de treinamento. É o que sugere estudo de pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa Científica, na França.
O experimento de imagens cerebrais realizadas em estudantes e profissionais perfumistas revelou, pela primeira vez, que regiões semelhantes são ativadas durante a percepção e a imaginação de odores e que esta ativação depende do nível de conhecimento da pessoa.
Resultado mostra que, como o imaginário visual ou auditivo mental, o imaginário olfativo depende da reativação de imagens olfativas no cérebro, e que esta capacidade se desenvolve com a experiência e o treino.
Somos todos capazes de visualizar nossa própria sala de estar, nos deslocarmos virtualmente ou mentalmente cantarolar uma melodia cativante. Mas podemos nos lembrar do cheiro de torradas a ponto de realmente sentir seu odor? O imaginário olfativo mental é um exercício muito mais difícil do que o visual ou auditivo e a maioria das pessoas afirma não ter essa capacidade. No entanto, os perfumistas, especialistas olfativos usados para cheirar, avaliar e criar odores, afirmam que eles são capazes de sentir um cheiro mesmo na sua ausência.
O estudo
Para avaliar se um bom olfato é fruto do treinamento, pesquisadores liderados por Jane Plailly e Jean-Pierre Royet, utilizaram a ressonância magnética funcional (fMRI).
Eles compararam a organização espacial das ativações cerebrais de estudantes da Escola de Perfumaria de Versailles (ISIPCA) com a de profissionais perfumistas.
Embora tenham sido colocados em um scanner, os participantes foram solicitados a evocar mentalmente o cheiro de substâncias odoríferas, cujo nome químico apareceu em uma tela.
Os resultados mostram que, em ambos os grupos, as imagens mentais olfativas ativaram o córtex olfativo (córtex piriforme), uma zona do cérebro normalmente estimulada durante a percepção.
Isso prova, segundo os pesquisadores, que áreas similares são ativadas durante a percepção e a imaginação de odores. Assim o imaginário visual ou auditivo, o imaginário olfativo depende da reativação de imagens olfativas através de um processo cognitivo interno (nosso próprio cérebro gera esta sensação) e não em resposta a um odor.
Outra constatação é que, em perfumistas, a formação olfativa intensa influencia o nível de ativação da rede neuronal envolvida no imaginário mental de odores. Surpreendentemente, quanto maior o nível de especialização, maior a redução da atividade das regiões olfativas e mnésicas (hipocampo). Assim, quando o cérebro é treinado, a "comunicação" em nível neuronal ocorre com mais facilidade, rapidez e eficiência, e a mensagem é mais específica, resultando na ativação reduzida. Isso mostra que o treinamento regular aumenta o imaginário mental olfativo, que não deriva de uma aptidão inata.
Neste estudo, os perfumistas foram capazes de imaginar o odor rapidamente, às vezes instantaneamente, enquanto os alunos de algumas dificuldades e precisavam concentrar a sua atenção. Ao facilmente reativar as representações mnésicas de odores, perfumistas podem comparar e combinar aromas mentalmente com o objetivo de criar novas fragrâncias.
Para os pesquisadores, esses resultados demonstram extraordinária capacidade do cérebro de se adaptar à demanda ambiental e de se reorganizar com a experiência.
Fonte: Isaude.net